Um momento de celebração, reflexão e permanente atenção. Estas foram algumas das observações trazidas pelas integrantes da mesa redonda virtual realizada nesta quarta-feira, (25) por ocasião da celebração do Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Transmitido pelo canal do IFMT, na plataforma do Youtube: (IFMT.Oficial), o evento contou com a participação de lideranças femininas do IFMT e de Mato Grosso, com mediação da coordenadora do Programa de Extensão Teresa de Benguela, Laura Aoyama.
Na abertura, representando o reitor Julio César dos Santos, o diretor executivo Gilcélio Peres destacou que o orçamento voltado para a extensão – somando quase R$ 30 milhões aplicados, hoje, em 223 projetos – reflete o compromisso da instituição com essa área.
“Temos muito orgulho de, enquanto Instituto Federal de Mato Grosso, dar essa contribuição na geração de emprego, renda, cidadania, melhorando a vida das pessoas”, afirmou, em vídeo, o reitor Julio Santos.
Na live foi lançada uma capacitação de 20 horas voltada à equipe que atuará no projeto de geração de renda, autonomia social e inserção feminina no mundo do trabalho. O curso visa preparar a equipe de trabalho do projeto para atuar junto aos públicos atendidos. Também será aberta a participação para servidores do IFMT de modo a divulgar o Programa de Extensão Teresa de Benguela e a atuação destes profissionais com mulheres em vulnerabilidade social. Confira!
O curso será ministrado na modalidade à distância, através da plataforma do Centro de Referência de Educação à Distância do IFMT, em formato MOOC (Massive Open Online Course).
Tereza e a agenda de lutas femininas
Abrindo a roda de conversa, a docente do campus Cuaibá Otayde, Manuela Arruda abordou aspectos de sua pesquisa voltada às narrativas e representações de Tereza de Benguela, que emergiu em um contexto muito complexo, do Brasil profundo, da zona de mineração, em uma região de contestação entre Portugal e Espanha, no oeste de Mato Grosso. A tese desenvolve a historicização da construção da memória dessa líder quilombola como uma referência para as mulheres negras do Brasil.
“É muito importante que o IFMT tenha escolhido como referência a um projeto de extensão voltado a mulheres em situação de vulnerabilidade uma figura de Mato-Grosso, mas que ainda é uma ‘presença ausente’ na historiografia brasileira. Minha tese discute quem vai tirar Teresa do apagamento histórico e reivindicar que a narrativa sobre a trajetória dessa líder negra também faça parte das páginas oficiais dos livros de história,” pontuou Manuela.
O diálogo sobre o movimento pelos direitos da mulher, especialmente da mulher negra, e a valorização do trabalho feminino permeou todas as falas. As palestrantes, especialmente a professora Dejenana Campos, fizeram um retrospecto das conquistas civis femininas e lembraram nomes como o das políticas cariocas Benedita da Silva e Marielle Franco, da escritora Carolina Maria de Jesus e reconheceram que em suas lutas atuais caminham sobre os passos dessas mulheres pioneiras.
“Nossos passos vem de uma ancestralidade. [...] E este é um espaço de fala importante para nós”, afirmou a quilombola e professora aposentada, Bel Farias, coordenadora do Movimento Negro de Mato Grosso. Ela falou sobre seu trabalho de escuta com jovens meninas e mulheres na cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade, onde resgatam conhecimentos ancestrais.
Os dados sobre violência e desigualdade, de acordo com o Mapa da Violência, atingem drasticamente a população negra, sendo as mulheres negras as principais vítimas de diferentes formas de violência.
“Tereza, uma mulher comandando um quilombo, é tirada desse apagamento histórico por representar uma agenda de luta do presente das mulheres negras, que é o direito à vida, tanto sua quanto dos seus filhos. Isso envolve toda uma discussão sobre o genocídio negro, o direito à saúde integral da população negra. Somos todas Teresa de Benguela. É como uma mitificação de que toda mulher é um quilombo, no sentido de ser uma fortaleza, uma resistência,” ponderou Manuela.
As imagens de Tereza de Benguela, Maria Taquara e Mãe Bonifácia trazidas por Cristina Soares ilustraram, não apenas a violência física sofrida, mas a organização política, militar e econômica, as parcerias existentes nas cenas do quilombo, onde o comando em forma de parlamento mostrava a força da comunidade.
“Hoje, nós mulheres negras, e todas as outras mulheres, precisamos nos aquilombar, trazer para a vida, para o trabalho não o olhar competitivo, mas de complemento, de ajuda mútua, pois o mercado de trabalho é ainda mais violento com a mulher negra”, defendeu a docente e artista.
Líder quilombola histórica
Tereza de Benguela foi uma líder quilombola no século XVIII, ativa na luta contra a escravidão, tornando-se um símbolo representativo de resistência e liderança. Nascida onde se localiza atualmente o estado de Mato Grosso, Teresa teve por um longo período de tempo a sua trajetória apagada na historiografia nacional devido ao prevalecimento da ordem patriarcal.
As narrativas em torno de Tereza de Benguela foram se transformando ao passar dos séculos. No século XXI, é escolhida como personalidade histórica para representar todas as mulheres negras, durante o Governo Dilma Rousseff.
Nas palavras da pesquisadora Manuela, “Tereza representa a realidade de muitos lares brasileiros comandados por mulheres negras. Gerações de mulheres negras que criam seus filhos sem genitores e que vão à luta, se tornam empreendedoras e desejam, mais que sobreviver, bem viver”.
“O avanço no respeito às mulheres é um avanço civilizatório e esta tarde marca o compromisso do IFMT com essa temática,” finalizou a presidente da Comissão Elas no IFMT, Regina Oléa.